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A grande família Garamond



Calude Garamond (c. 1480-1561) foi um dos grandes puncionistas tipográficos de todos os tempos. “Puncionista” era o profissional que gravava os moldes utilizados na fundição de tipos em uma tipografia. Era ele, portanto, o grande responsável pelo desenho das letras que eram utilizadas em materiais impressos, tais como livros, jornais, panfletos etc.

Garamond trabalhava em Paris, no início do século XVI, e suas letras romanas são, nas palavras de Robert Brighurst, referência no estudo da tipografia contemporânea: “formas imponentes da Alta Renascença, com eixo humanista, contraste moderado e extensores longos”. Garamond também produziu belas versões itálicas, sendo um dos primeiros a introduzir versais inclinadas ao estilo. Porém, não chegou a nutrir grande entusiasmo pela ideia de colocar romanas e itálicas lado a lado, em uma mesma família. Talvez por isso, os revivals de seus tipos romanos costumam ser combinados com itálicos baseados na obra de seu colega contemporâneo, o renomado tipógrafo e gravador Robert Granjon.

Atualmente, várias famílias tipográficas são derivadas dos tipos de chumbo originalmente gravados por Garamond. Suas versões digitais, distribuídas por diversas empresas como Adobe, Linotype e ITC, também apresentam, assim como suas versões tipográficas, diferentes níveis de fidelidade ao desenho original, diferindo em aspectos como a Altura-x, por exemplo.

Constantemente adaptados para novos meios de reprodução tipográfica, como linotipo, fotocomposição e fontes digitais, a família Garamond divide hoje com a Times New Roman o posto de fonte serifada mais popular do mundo, principalmente na França, seu país de origem.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Claude Garamond tornou-se uma referência para a criação de tipos ainda durante a Renascença. Sua mais inspiradora fonte foi gravada no início de sua carreira, para a corte francesa e, em especial, para o rei Francis I. Inspirando-se na caligrafia do bibliotecário do rei, Angelo Vergecio, e baseando seus tipos romanos nos gravados por Francesco Griffo para o impressor veneziano Aldus Manutius, em 1495, sua família de fontes foi primeiramente utilizada em uma série de livros de Robert Estienne, um francês estudioso da impressão. A partir de então, Garamond refinou suas letras romanas em versões posteriores, adicionando seus próprios conceitos à medida que desenvolvia suas habilidades como puncionista.

Punções de seus tipos acabaram nas oficinas de Christoph Plantin, na Antuerpia, depois de sua morte, em 1561. Utilizadas por muitas décadas, essas punções podem ser vistas ainda hoje no museu Plantin-Moretus, na Bélgica. Outras punções suas foram ainda para a fundição de Egenolff-Berner, em Frankfurt, impressor que produziu o famoso exemplar Egenolff-Benner, de 1592, que se tornou uma das mais importantes fontes de informação sobre os tipos de Garamond para as gerações de estudiosos e designer posteriores. Nesse famoso exemplar, figuram também os tipos itálicos entalhados por Robert Granjon (1513-1589), que trabalhou para Plantin, e que serviram de modelo para os itálicos de muitas das versões de fontes Garamond existentes até hoje.

Cerca de 60 anos após a morte de Garamondo, em 1621, outro impressor francês, Jean Jannon, gravou um conjunto de letras similares as de Garamond, embora mais assimétricas e irregulares em sua inclinação e eixos. Jannon foi o primeiro dos grandes artistas tipógrafos do barroco europeu, segundo Bringhurst. Como ele era protestante, fazia impressões consideradas ilegais sob o regime católico da época e, por isso, seus tipos foram confiscados por agentes da coroa em 1641. É possível que Jannon tenha sido reembolsado pelo confisco mas, ainda assim, seus tipos deixaram de ser usados por cerca de 200 anos.

Depois de ficarem guardados por dois séculos, os tipos de Jannon foram redescobertos nas oficinas da Gráfica Nacional Francesa, em 1825, e atribuídos erroneamente a Claude Garamond. Esse equívoco só foi corrigido em 1927, a partir de pesquisa realizada pela tipógrafa, pesquisadora e escritora norte-americana, Beatrice Warde, sob o pseudônimo Paul Beaujon.

No início dos anos 1900, os tipos de Jannon haviam sido utilizados na impressão de uma história da tipografia, na França, trazendo nova atenção à tipografia francesa e às fontes “Garamond”. Esse movimento deu origem a diversos revivals modernos dessa fonte, alguns deles baseados no modelo de Jannon, como é o caso da Garamond #3, de Morris Fuller Benton. As punções sobreviventes de Jannon encontram-se ainda hoje na Imprimerie Nationale de Paris, a gráfica nacional francesa.

GARAMONDS

Robert Bringhurst, destaca três revivals de Garamond que, segundo ele, merecem “séria consideração”: STEMPEL GARAMOND, editada pela fundição Stempel em 1925 e posteriormente digitalizada pela Linotype; GRANJON, desenhada por George William Jones e editada pela Linotype em 1928; e ADOBE GARAMOND, projetada por Robert Slimbach e editada em formato digital pela Adobe em 1989.

A Stempel Garamond foi inicialmente desenvolvida pela fundição Stempel, seu desenho é baseado no exemplar Egenolff-Berner, de 1592, e, portanto, trata-se de um modelo genuíno de tipos Garamond. Aliás, é a única das três verões na qual tanto a romana quanto a itálica são baseadas em uma fonte Garamond genuína. Desde seu lançamento, tem sido uma das famílias tipográficas mais utilizadas em livros, principalmente na Alemanha.

A Granjon foi projetada por George W. Jones para a Linotype & Machinery, em 1928. Ela é baseada no tipo romano tardio de Claude Garamond (de 16 pontos) e, para evitar confusão com os romanos baseados na obra de Jannon, do século XVII, a empresa optou por nomear a família como “Granjon”, puncionista que desenhou os itálicos usados como modelo em muitas das versões de fontes Garamond. Sua face de texto é magnífica e bastante legível, sendo utilizada no Reader’s Digest desde sua fundação.

A Adobe Garamond foi Desenhada por Robert Slimbach e produzida pela Adobe em 1989. Seus romanos são baseados em um modelo genuíno de Garamond e seus itálicos seguem o desenho dos tipos de Robert Granjon, assistente de Garamond. Ela é considerada como um dos mais versáteis design de fontes disponíveis hoje em dia, sendo bastante graciosa e atrativa para a impressão. É também um dos tipos mais “ecológicos” pois seu desenho consome menos tinta do que outras fontes similares. A família foi expandida para incluir versaletes, titulares, expert fonts e swach caps, que eram típicos da tipografia dos séculos XV e XVI. A partir do surgimento das fontes digitais, a Adobe Garamond tem sido uma das mais populares fontes tipográficas para livros mundo afora. Além de ser a família escolhida para compor o logotipo da Google, livros famosos, como os volumes do legendário Harry Potter, foram diagramados com essa fonte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRINGHURST, Robert. Elementos do Estilo Tipográfico (versão 3.0). Cosac Naify, São Paulo, 2005.

The font series: Garamond, por Lexie, da Design Roast (último acesso: 20/10/2020).

Just what makes a “Garamond” a Garamond?, por Lynotype (último acesso: 20/10/2020).

Adobe Garamond, por Adobe (último acesso: 20/10/2020).

Garamond, por Wikipedia (último acesso: 20/10/2020).

Claude Garamond, por Wikipedia (último acesso: 20/10/2020).

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