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Triste fim de Policarpo Quaresma (resumo)

Atualizado: 10 de mai. de 2022


Sinopse


Obra prima de Lima Barreto, este romance Pré-Modernista narra a bem-humorada tragédia de Policarpo Quaresma, personagem dominado pelo ideal do amor à pátria brasileira. A história se passa no Rio de Janeiro, no final do século XIX, durante o governo de Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”, segundo presidente da nossa república. Pode-se dizer que Policarpo é um Dom Quixote à brasileira: um sujeito que ama a leitura e vive em um mundo de sonhos, obcecado por ideais que desconsideram a realidade que o cerca.


O livro é dividido em três partes e cada uma delas aborda um dos ambiciosos projetos do Major Quaresma, sempre devotados à grandeza da nossa nação.


Na primeira parte, Quaresma se debruça sobre a área cultural e propõe à Câmara dos Deputados que o Brasil adote o Tupi-Guarani como língua oficial. O desfecho dessa proposta é o hospício, onde Quaresma é internado.


Na segunda parte, após receber alta do sanatório, ele compra um sítio fora da Capital e se lança à aventura da agricultura. Acredita que as terras brasileiras são as mais férteis do mundo e que, com seu exemplo, promoverá o desenvolvimento econômico do país. Derrotado pelas saúvas, decide tomar parte na política, apoiando o governo de Floriano, que enfrenta uma grave rebelião.


Na terceira parte do livro, convencido de que somente um governo forte, com mãos de ferro, poderá livrar o Brasil dos obstáculos que impedem seu pleno desenvolvimento, a história termina melancolicamente, com a injusta prisão de Policarpo por "traição à pátria".


Publicado originalmente como folhetim no Jornal do Commercio, em 1911, Triste fim de Policarpo Quaresma só foi editado em livro quase cinco anos depois, às custas do próprio autor.


O romance é narrado em terceira pessoa e deixa o leitor livre para julgar e adotar o seu próprio partido. Assim, podemos sentir pena da ingenuidade de Quaresma ao mesmo tempo em que achamos graça de seus projetos esquisitos. O título antecipa o desfecho infeliz: Policarpo, que acreditava cegamente na pátria, é preso como traidor. Quaresma conclui ter desperdiçado sua vida ao perseguir em vão sonhos e quimeras. Afinal, a “pátria” pela qual ele tanto se empenhara, nunca havia existido realmente. Sua morte no cárcere fica subentendida.



Resumo da história


Policarpo Quaresma é um diligente funcionário público, solteiro, de meia idade, morador do subúrbio carioca, onde vive em casa própria com a irmã, também solteira. Cordial, pacato, metódico, extremamente pontual em sua rotina, Quaresma vive rodeado por livros sobre todo e qualquer assunto que esteja relacionado ao Brasil.


Embora respeitado pela vizinhança, por sua condição relativamente “abastada” de funcionário público, é incompreendido por seus hábitos discretos e seu gosto pela leitura. Os vizinhos, os colegas de trabalho e até mesmo a irmã de Quaresma, Adelaide, acham estranho que alguém sem formação universitária goste tanto de livros. Policarpo, porém, segue impassível com seus projetos, indiferente à incompreensão das pessoas.


Nada ambicioso, ele é avesso tanto à autopromoção quanto às fofocas, sendo movido quase que exclusivamente por um profundo sentimento de amor à Pátria. E é esse amor incondicional à Pátria que o leva a promover a "verdadeira cultura brasileira". Então, ele passa a tomar aulas de violão com o renomado menestrel Ricardo Coração dos Outros, indiferente ao espanto que provoca nos vizinhos ao demonstrar gosto por um instrumento tão vulgar.


O violeiro, porém, encanta a vizinhança com suas modinhas e passa a frequentar a casa do General Albernaz, vizinho de Policarpo. O general, movido pelo desejo de casar suas filhas, vê nas modinhas de Coração dos Outros uma oportunidade para atrair bons partidos à sua casa. É com essa perspectiva que Albernaz decide promover um resgate das canções tradicionais brasileiras, para animar uma festa em sua residência. Para tanto, ele conta com o apoio entusiasmado de Quaresma, que vislumbra a possibilidade de incentivar o gosto pela "nossa cultura" entre seus pares.


Depois de uma conversa infrutífera com uma pobre e velha ex-escrava de Albernaz, Maria Rita, eles conhecem um decadente poeta que coleciona danças, canções e histórias populares. Animados, montam a apresentação do “Tangolomango” na festa do general, número apresentado a eles pelo velho estudioso. Entretanto, Policarpo descobre que essa canção é de origem europeia, como aliás a maioria dos contos, canções e danças tradicionais que circulam em meio à nossa gente.


A frustração não demove nosso obstinado herói. Ao contrário, Policarpo dedica-se à identificação das tradições genuinamente brasileiras. Seguindo por esse caminho, propõe à Câmara dos Deputados um projeto para transformar o Tupi-Guarani em língua oficial do Brasil. Essa petição vira motivo de chacota na imprensa, alcançando enorme repercussão. Sua vida, de pacata, torna-se um inferno e, em meio ao bullying dos colegas e à perseguição da imprensa, sofre um colapso nervoso e termina internado em um hospício.


Sua recuperação é lenta e melancólica. No hospital psiquiátrico, recebe a visita de poucos amigos, como sua afilhada, Olga, e Ricardo Coração dos Outros. Uma vez recuperado, decide mudar-se para um sítio afastado do Rio de Janeiro: o sítio do Sossego. Começa aí a segunda parte do livro.


No Sossego, Policarpo não abandona seus ideais nacionalistas. Ao contrário, apesar de frustrados seus projetos culturais, lança-se com afinco à agricultura, animado pela ideia de produzir seu próprio alimento e, até, obter algum lucro com o cultivo do solo "mais feraz do mundo". Mais do que a ambição do dinheiro, ele é movido pela crença de que, com seu exemplo, ajudará a promover a grandeza da Pátria e a felicidade da nação. Seu projeto agrícola, porém, encontra diversas barreiras, como a política local, que o arrasta para uma disputa entre caciques políticos rivais, impondo-lhe dificuldades depois que declina de uma proposta indecorosa do presidente da Câmara Municipal, Doutor Campos. Além disso, formigas devoram sem clemência suas hortas e seus pomares, mostrando-se um inimigo tenaz e organizado. Por fim, Policarpo se depara como barreiras logísticas e comerciais, que lhe impõem elevados custos e transformam em irrisórios seus lucros.


Policarpo conclui, então, que uma ação política faz-se necessária, para que a nação possa desenvolver plenamente seu potencial. Assim, informado sobre a revolta de parte da Marinha contra Floriano Peixoto, no Rio de Janeiro, coloca-se imediatamente à disposição do ditador, imaginando que o Marechal, ao se consolidar em um governo forte, terá condições de promover as mudanças que o país tanto necessita. Começa, assim, a terceira e última parte do romance.


Quaresma envia um telegrama a Floriano Peixoto e volta à capital, onde integra o batalhão patriótico Cruzeiro do Sul, sob o comando do Tenente-Coronel Bustamente (antigo Major). Quaresma é efetivado no posto de Major, título pelo qual sempre fora conhecido, embora nunca o tivesse ocupado oficialmente.


Policarpo havia redigido um documento, no qual expunha em detalhes as reformas e ações necessárias para o pleno desenvolvimento do país. Ele chega a entregar o manuscrito nas mãos do próprio Floriano, mas vê sua crença na capacidade (e interesse) do Marechal em encabeçar tais reformas esvair-se paulatinamente.


Primeiro o ditador rasga um pedaço da capa de seu trabalho para enviar um bilhete a outro comandante, na sua frente, desculpando-se protocolarmente em seguida. Depois, em visita ao batalhão Cruzeiro do Sul, o Marechal deixa claro que não tem a intenção de seguir as recomendações de seu documento, chamando Quaresma de "visionário". Sua frustração com o regime aumenta ainda mais depois que Policarpo participa do sangrento combate que põe fim à revolta. Depois da vitória, Quaresma é designado para o cargo de carcereiro, onde testemunha as injustiças que são infligidas aos derrotados, em sua maioria pobres e de baixa patente. Sem conseguir se conter, Policarpo denuncia tais vilanias em carta dirigida ao Presidente, mas termina preso por traição.


No cárcere, Quaresma remói seu passado e reavalia suas convicções. Enquanto aguarda seu triste fim em um escuro e abjeto calabouço, seu amigo Ricardo e sua afilhada Olga tentam libertá-lo, mas não encontram apoio entre os demais "amigos" do Major, receosos de se indisporem contra o regime. Termina assim a triste saga (e os dias) desse modesto herói nacionalista.



Personagens

Policarpo Quaresma: personagem principal, é nacionalista, idealista e ingênuo. Íntegro, discreto, cordial e estudioso, é incapaz de perceber os movimentos mesquinhos e egoístas que o cercam, ao mesmo tempo em que devota cega paixão à "Pátria".

Adelaide: irmã de Policarpo, mora com ele e o acompanha ao longo de toda história. Mais pragmática que o irmão, é incapaz de compreender as motivações dele.

Ricardo Coração dos Outros: trovador, foi professor de violão de Policarpo Quaresma. Torna-se seu amigo e compartilha com Policarpo o gosto pelas canções populares. Fiel até o último momento, busca ajuda para tentar libertar o major quando este é preso.

Olga: afilhada de Policarpo, é inteligente e possui uma relação de carinho com o padrinho. Casa-se por obrigação (ou por preguiça) com Armando Borges, a quem ela passa a desprezar, embora mantenha o casamento, convencida de que os homens são todos iguais. Olga, junto com Ricardo e Coleoni, seu pai, são os verdadeiros amigos de Quaresma.

Vicente Coleoni: pai de Olga, é um imigrante italiano grato a Policarpo por este ter-lhe emprestado dinheiro em um momento de dificuldade de seu passado.

Armando Borges: marido de Olga, é um homem ambicioso e superficial. Apesar de formado em Medicina, percebe-se logo que ele não é movido pelos estudos e nem pela leitura, muito menos pelo desejo de ajudar o próximo.

General Albernaz: vizinho de Quaresma, embora sempre se refira à guerra do Paraguai, nunca participou de uma só batalha. Sua principal preocupação é casar as cinco filhas e garantir os proventos necessários ao luxo da família.


Ismênia: uma das filhas de Albernaz, tem um noivado de cinco anos frustrado pelo sumiço de seu noivo. Obcecada pela ideia de casar-se, a jovem fica louca e adoece. Ao morrer, é enterrada com seu vestido de noiva, conforme seu desejo.

Almirante Caldas: amigo de Albernaz, costuma discutir questões de promoção e de proventos com o general. Assim como Albernaz, cita muitas batalhas, sem nunca ter participado de nenhuma.

Genelício: jovem “promissor”, em ascensão na carreira pública, é um bajulador, cheio de artimanhas para agradar aos chefes e subir de cargo. Alcança, assim, altas posições como empregado do Tesouro e torna-se genro do General Albernaz.

Major Bustamante: amigo de Caldas e de Albernaz, o militar engrossa o coro de altas patentes pouco afeitas ao combate. Promovido a Tenente-Coronel durante a revolta da Marinha, comanda o batalhão Cruzeiro do Sul, onde Quaresma serve, mas prefere dedicar-se com esmero à escrituração dos livros e aos controles burocráticos.

Maria Rita: idosa pobre, ex-escrava, trabalhou na casa de Albernaz há muitos. É procurada por ele e por Quaresma, em busca de cantigas populares brasileiras.

Felizardo: fiel servo de Policarpo, muda-se com ele para o sítio do Sossego, ajudando-o na lida da terra.

Doutor Campos: presidente da Câmara de Curuzu, município onde se situa o sítio do Sossego, tenta corromper Quaresma que, ao se recusar, passa a ser tratado como inimigo político.

Marechal Floriano: presidente do Brasil de 1891 a 1894, conduz o governo em meio a uma revolta que pede a sua deposição. Recebe Quaresma pessoalmente e o trata com cordialidade, mas despreza o manuscrito em que Policarpo apresenta propostas para o desenvolvimento do Brasil.


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